segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Lygia Clark - Máscaras Sensoriais

Uma belíssima pintura, exposta em uma parede a dois metros de distância em um museu internacionalmente famoso. Essa certamente não é o conceito de arte abordada por Lygia Clark. Em 1959, Lygia Clark assinara o Manifesto Neoconcreto, herdando certos posicionamentos do movimento concreto, como a participação da arte na transformação social, porém adicionando novos aspectos como a multisensorialidade e o simbolismo da obra a partir do contato com o espectador.

Para uma das mais notáveis e inovadoras artistas brasileiras a arte deveria experimentada. Cada obra de Lygia exigia do expectador sair de seu papel de meramente passivo e assumir uma forma única com sua criação. E justamente a ação, o ser humano ativo dentro da obra, a forma de cada um experimentar de forma ímpar cada obra toravam as obras de arte em objetos vivos e mutáveis. A obra só estaria completa no ato.

Tocar, cheirar, apertar, sentir, interagir. Este era o propósito maior das obras de Clark. Entrar em contato com este novo universo artístico significa deixar um pouco de si e levar um pouco do que a artista desejava.

Sejam em "Bichos" - escultura de chapas de metal que transmutavam em diversas formas a partir do desejo do usuário; nos entrelaces de corpos na fase denominada "Nostalgia do corpo" ou ainda nas "Máscaras Sensoriais" que provocavam uma explosão de sentidos ao participante.

É difícil descrever o funcionamento das obras de Lygia Clark, pois a obra é realmente mutável e de significado ímpar para cada um. Porém para detalhar melhor a obra "Máscaras Sensoriais" utilizarei alguns trechos encontrados no seu "Livro Obra" (publicação de 1983 de textos escritos pela própria artista e de estruturas manipuláveis, relatando a trajetória da obra de Lygia desde as suas primeiras criações até o final de sua fase Neoconcreta).

Segundo Lygia Clark, as Máscaras Sensoriais, de 1967, seriam um meio de fazer o homem encontrar o fantástico dentro de si, pois ficava alheio ao mundo de que há pouco fazia parte. Pelo tato, sons e odores, o participante poderia ser levado "a um estado equivalente ao da droga", ao perder contato com a realidade externa.

Feitas de tecido, as Máscaras Sensoriais cobriam toda a cabeça, eram de diferentes cores (verde, rosa, azul, púrpura, cereja, branco e preto) e davam aos participantes um aspecto monstruoso. Eles tinham ouvidos e olhos tapados – por dispositivos que variavam de máscara para máscara, alterando a audição e a visão – e uma espécie de bico, que abrigava diferentes substâncias, como ervas aromáticas, para o estímulo olfativo.

Ao usar a máscara, cada um poderia experimentar momentos de integração com o mundo exterior ou uma interiorização, que poderia chegar ao isolamento absoluto. Cada reação dependia das respostas cerebrais dadas aos estímulos. Segundo Clark, "As máscaras permitem habitar um espaço intermediário entre o real e a fantasia, entre o exterior e o interior."

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