terça-feira, 10 de novembro de 2009

Helio Oiticica


Hélio Oiticica foi um dos mais criativos artistas plásticos brasileiros. A síntese de sua obra são seus belos "Parangolés" (1964): capas, estandartes ou bandeiras coloridas de algodão ou náilon com poemas em tinta sobre o tecido a serem vestidas ou carregadas pelo ator/espectador, que passa a perceber seu corpo transformado em dança. Quase uma poesia, pois a obra de arte só se revela quando alguém a manuseia, a movimenta. Iniciou sua trajetória artística ligado às experiências concretas e neoconcretas. Cada vez mais desejoso de integrar a arte à experiência cotidiana, passou a propor a participação do espectador pela vivência visual, Os primeiros parangolés são construções em madeira a serem penetradas pelo espectador, que caminha sobre areia, toca em objetos, escuta ruídos etc. Os segundos, recipientes de diversos materiais, como madeira, vidro, lata e plástico, contêm elementos como areia, pedra e carvão colorido, que devem ser manipulados. A obra nasce de apenas um toque na matéria. Quero que a matéria de que é feita minha obra permaneça tal como é; o que a transforma em expressão é nada mais que um sopro: um sopro interior, de plenitude cósmica. Fora disso não há obra. Basta um toque, nada mais.


A Tropicália foi uma expressão retirada de um projeto ambiental do arquiteto Hélio Oiticica na exposição “Nova Objetividade Brasileira”, que caracterizava um estado da arte do Brasil de vanguarda, confrontando-o com os grandes movimentos artísticos mundiais em busca de uma estética puramente brasileira. O conceito de Tropicália evidenciava a necessidade de representar e destacar um estado brasileiro como elemento importante na cultura nacional,a busca pelo seu sentido próprio. Esse conceito é muito mais do que araras e bananeiras: é a consciência de um não-condicionamento e a ''resistência'' às estruturas estabelecidas, algo altamente revolucionário na sua totalidade,se tratando não apenas do campo artistico mas respaldando um movimento ideologico. Qualquer conformismo, seja intelectual, social, existencial, escapa à sua idéia principal.Em suas obras o receptor interage com a obra, fazendo parte, se tornando a propria obra de arte.

O artista por meio de suas experiências com o samba, com os morros e com as favelas cariocas, principalmente da arquitetura dos grandes centros urbanos, a arte das ruas das coisas inacabadas, dos terrenos baldios,retira de suas experiências com o meio subsidios para suas criações e faz surgir uma de suas maiores invenções: os Parangolés , criados artesanalmente com telas, panos, plásticos, materiais pintados em formato de estandartes, bandeiras e tendas. alguns desses materiais ganharam formas de grandes capas, para serem vestidas. O que se busca e criar um conceito semelhante às fantasias, às roupas e às esculturas móveis que propiciaram uma espécie de campo experimental. Os Parangolés exploraram uma nova relação com o espaço e evidenciaram a participação do espectador na obra.Fazendo com que o mesmo tome para si a interpretação da obra , explorando e expressando na interação com a mesma a sua percepção particular.


Quando criei a minha obra-ambiente TROPICÁLIA(1966-67), duas coisas queria, de modo objetivo: uma era sintetizar tudo o que vinha fazendo há tempos no sentido se uma arte-ambiental(ou antiarte, como queiram), outra era marcar, com o conceito de tropicália, um novo modo objetivo de caracterizar certos elementos na manifestação atual da arte brasileira, que se possam erguer como figura autônoma, não-cosmopolita, opondo-se num novo modo ao Op e Pop internacionais.
Só quando formulei a idéia de Parangolé, em 1964, embocava nesse sentido conscientemente-TROPICÁLIA seria uma síntese de várias tendências por mim abarcadas: participação do espectador na obra, proposições ambientais-sensoriais, antitecnologia são(notar que essas obras são quase que artesanais, feitas à mão, como as capas-protesto que enviei para a Bienal de Paris, em esteiras, aniagem etc.).
Como cheguei a isso é uma longa historia: a descoberta no morro da favela carioca, do bas-fond do Rio e a minha iniciação no samba como passista da Mangueira- foi tudo um processo de anos para cá, propositalmente antiintelectual.Enquanto muitos sonham com Paris, Londres, Nova York, etc., eu me dedico há anos ao que chamo de “volta ao mito”- com isso longe de ser um atitude intelectual, abstrata , foi uma experiência decisiva no contexto da cultura brasileira-, a descoberta de forças expressivas latentes nesse contexto: não acredito numa arte cosmopolita(característica mais encontrada aqui)- para ser universal só desenvolvendo nossa própria capacidade expressiva: a dança, o rito, todas as manifestações populares(Pangarolé era a busca dessa origem), o tropicalismo brasileiro, as festas coletivas,etc.. Nossa pobre cultura universalista, baseada na européia e americana, deveria voltar-se para si mesma, procurar seu sentido próprio, voltar a pisar no chão, a fazer com a mão, voltar-se para o negro e o índio, à mestiçagem: chega de arianismo cultural no Brasil!

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